23 de agosto de 2016

Hora da sesta

A tua bebé tem estado agitada. Será algum dente a querer romper? Muito coçam aqueles dedinhos na gengiva. Dormir está difícil, mas tem tanto sono. Passas a tarde a dar de mamar, a mudar a fralda, a embalar, e repetes.
Pediste aos mais velhos para não fazerem barulho, para nem sequer irem ao quarto onde estás a tentar adormecê-la.
Eis que os olhos se fecham. Um suspiro. O corpo relaxa. Esperas com paciência mais um bocadinho, para entrar mais profundamente naquele soninho tão esperado. É agora, levantas-te com todo o cuidado, deita-la com muito jeitinho, susténs a respiração quando ela parece rabujar (falso alarme, continua a dormir). Preparas-te para te virares e é então que os ouves: os passos. Oh não...

MÃE, PRECISO DE...

Ainda levas um dedo à boca, num xxiiiuuuuu silencioso, mas é tarde demais.
Quando olhas para a miúda, deparas com uns olhos bem abertos, um sorriso tonto e um espernear frenético.

Hoje é dia de bater com a cabeça nas paredes.

19 de agosto de 2016

O susto

Ela subia e descia as escadas sem parar.
- Olha que ainda cais! - dizia a avó.
Desviei o olhar do fundo da rua onde estava o pai e já só vi os pés dela no ar.
- Pronto! Eu não disse! Eu sabia! (...)
Afastei-os a todos e contornei as escadas para a encontrar de pé, sem uma lágrima, mas com a voz trémula. "Ao menos agarrei-me" disse ela, a fazer-se forte.
Peguei nela ao colo e levei-a para dentro, tentando afastá-la do barulho, do "eu já sabia". O coraçãozinho dela parecia um tambor contra o meu peito.
- Até nos salta o coração do peito! - a gritaria veio atrás de nós, mas eu abraço-a mais forte. Ela não precisa de lições, ela não tem de pedir desculpa.
O maior susto foi o dela.
- Está tudo bem, já passou.
E ela relaxa, agarrada a mim, sem uma lágrima, suspira enfim. Está tudo bem, já passou.


7 de agosto de 2016

Momento Zen do dia #25

Estava a sair do duche quando o Xavier entrou na casa de banho. Olhou para mim enquanto eu me secava e vestia. E do alto da sua sabedoria, sentenciou:
- Ó mãe, estás um bocado gordinha.

"O que é que a bebé está a fazer, mãe?"

Já amamentei em praticamente todo o lado. Em restaurantes, bancos de jardim, no carro, em salas de espera de consultórios ou centros de saúde, na minha casa, na casa dos outros, em festas de casamentos e baptizados, na Sé de Viseu, nas áreas de restauração de centros comerciais... eu sei lá.
Normalmente as pessoas não reparam (até porque eu também sou discreta) ou se reparam nem dizem nada, pelo menos que eu dê conta. Não que eu me esteja a ralar.
Lê-se muito nas redes sociais sobre mães que estão a amamentar em público que são assediadas e insultadas. Não sei se cá em Portugal isso acontece, pessoalmente nunca vi isso acontecer.
Mas aconteceu uma situação gira há umas semanas.

Quando levo o Xavier ao judo, tenho de levar a cambada toda. Normalmente, assim que lá chegamos, a Ana pede mama. Claro! O que vale é que junto à sala onde são os treinos, há um hall com cadeiras e até uns cadeirões (bastante confortáveis) que aproveito logo se estiverem livres.
Um destes dias, sentei-me num cadeirão junto a um garoto que estava com a mãe à espera que o irmão acabasse o treino. O miúdo achou graça à Ana e quando eu a pus à mama ele ficou muito espantado e perguntou à mãe o que é que a bebé estava a fazer. A mãe, muito naturalmente, disse-lhe que a bebé estava a beber leite. O garoto ficou muito espantado. Acho que nunca lhe tinha passado pela cabeça que os bebés podiam beber leite das maminhas da mãe. Mais espantado ficou quando a mãe lhe disse que ele também tinha mamado quando era bebé.
No treino seguinte voltámos a encontrar-nos e o pequeno perguntou logo à mãe: "A bebé vai mamar?" E veio para o pé de nós, fascinado com a cena da Ana a mamar. Muito sereno, respeitoso, carinhoso com a bebé. Mas acima de tudo, muito fascinado.

Este garoto não só aprendeu uma coisa nova, mas também que é normal. A atitude da mãe nunca foi de o afastar, apenas o avisou para não perturbar a Ana quando mamava. Explicou-lhe tudo muito naturalmente e não se incomodou nada que o filho visse a minha mama. Eu também estava à vontade (como sempre) e deixei-o estar perto.
Isto fez-me reflectir num aspecto muito importante da amamentação: ver bebés a mamar quando somos pequenos devia ser o normal, não o estranho. Penso que seria até vantajoso mais tarde para o sucesso da amamentação dos seus filhos. Por isso não me escondo dos meus filhos para dar de mamar à irmã. Não me escondo de ninguém, aliás. Amamentar é tão bom que o faço com prazer. Com amor. E pelo tempo que a Ana quiser.

Semana Mundial do Aleitamento Materno 2016

Há três anos escrevi um post também sobre amamentação. Fica aqui, para quem quiser ler.



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